Comissão Europeia quer colocar Contas Bancárias de Cidadãos em Risco?


Mais uma notícia do excelente economista e Director adjunto de informação da SIC, José Gomes Ferreira, que expõe sempre as verdades sem receios e sem rodeios.

A Comissão Europeia quer pôr as contas bancárias e o dinheiro das pensões dos cidadãos em risco.

Nos últimos meses, tanto a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, como a comissária para os serviços financeiros, Maria Luís Albuquerque, têm andado a apregoar a ideia de que o dinheiro parado nos depósitos bancários não serve para quase nada e que os cidadãos deviam apostar muito mais em produtos financeiros de maior rendimento, mesmo que impliquem risco.

As duas responsáveis planearam desenvolver uma grande campanha de literacia financeira na Europa (considerando implicitamente que a maior parte dos cidadãos é ignorante nesta matéria) e querem convencer os governos a dar mais benefícios fiscais a quem invista o seu dinheiro nos mercados.

Ao mesmo tempo, a Comissão Europeia anunciou um projeto de revisão das regras de supervisão bancária e financeira na União, cujo objetivo último é dar mais liberdade aos bancos, fundos, seguradoras e outras entidades do setor para investir em ativos mais rentáveis, logo com maior risco.

O Banco Central Europeu acaba de dar uma resposta seca a esta última iniciativa da dupla Ursula/Maria Luís: o BCE rejeitará toda e qualquer iniciativa da Comissão e do Parlamento Europeu para mexer nas leis da supervisão bancária na União Europeia que ponha em causa a estabilidade que o atual quadro normativo traz a todos os agentes, sejam depositantes investidores ou responsáveis dos próprios bancos.

Em Portugal, numa atitude de seguidismo provinciano, o Governo já admitiu estar a estudar uma forma de atribuir mais benefícios fiscais a quem tire o dinheiro das contas bancárias e o invista nos mercados financeiros e de capitais.

Maria Luís Albuquerque vai ao ponto de considerar que, em Portugal, os mais de 180 mil milhões de euros que se encontram em depósitos nos bancos deviam estar a render muito mais, dizendo coisas como: “Pensamos que os depósitos bancários são seguros, mas seguro é que perdemos dinheiro com eles”.

No seu afã de favorecer os mercados financeiros e promover mais investimentos nas bolsas, a ex-ministra das Finanças de Portugal e atual comissária europeia vai ainda mais longe: no fórum Eurofi, que junta os maiores bancos, seguradoras, fundos e consultoras do mundo, afirmou recentemente que: “Temos de desbloquear o acesso ao financiamento privado para estas empresas, e os bancos e os investidores institucionais devem também considerar a possibilidade de investir no sector da defesa.”

Isto é, para Maria Luís Albuquerque, o dinheiro das poupanças dos cidadãos que está guardado nos bancos deve ser apostado em ações de empresas, incluindo do ramo militar. E a dimensão da declaração da comissária não se limita ao dinheiro dos depósitos, indica também que os investidores institucionais como os fundos geridos pelos institutos da Segurança Social devem investir nestes ativos de risco.

A resposta à pergunta que faz o título deste artigo é: sim, a Comissão Europeia quer pôr o dinheiro das nossas contas bancárias e das reservas da Segurança Social em risco.


Mas há mais perguntas para fazer (José Gomes Ferreira)

- Maria Luís Albuquerque está segura de que a mobilização massiva do dinheiro dos depósitos bancários e das reservas das pensões na Europa para investimentos em ações e títulos de dívida vai mesmo beneficiar as empresas europeias e ajudá-las a crescer e inovar mais? Não terá pensado nem um segundo que esse dinheiro em vez de ir reforçar o tecido empresarial europeu acabará por ir parar às grandes tecnológicas americanas, às bolsas asiáticas, à bolha das moedas digitais, ou ao mercado imobiliário, agravando ainda mais a crise de preços da habitação?

- Maria Luís Albuquerque terá lido as declarações dos presidentes executivos dos maiores bancos, Goldman Sachs e Morgan Stanley, que há poucos dias disseram que há uma sobrevalorização dos índices bolsistas e que as ações cotadas em bolsa poderão vir a cair em breve mais de 15 ou mesmo 20 por cento?

- Maria Luís Albuquerque e a sua mentora Ursula von der Leyen não terão lido os alertas de cada vez mais especialistas que consideram que uma correção desta dimensão não ficará por aqui, acabará por contagiar a capacidade de bancos, fundos e grandes investidores de pagar os compromissos aos seus clientes?

- Maria Luís Albuquerque não terá percebido que a recente recomendação do Banco de Portugal para as famílias manterem algum dinheiro vivo em casa indica que o banco central sabe algo mais do que todos nós?

- Não saberá a comissária europeia que em caso de crise financeira grave as diretivas europeias já preveem a limitação parcial do levantamento de dinheiro aos balcões dos bancos e nas caixas multibanco?

Recordo bem que, na primeira década deste século, gestores de vários bancos portugueses andavam a telefonar insistentemente aos seus clientes para transformar os respetivos depósitos em investimentos financeiros que davam muito mais juros, sem avisar para o risco inerente. E recordo também que muitos portugueses, grande parte sem saber que tinham investido em risco, começaram a ver os saldos das respetivas contas a cair. Num dos casos, um trabalhador fabril que tinha feito uma aplicação de 20 mil euros, recebeu uma carta com um saldo de… 13 mil euros! Isto passou-se no Portugal de 2013, há 12 anos…

Se muitos portugueses forem convencidos pela Comissão Europeia e pelo Governo português, através de campanhas de alegada literacia e de benefícios fiscais manhosos, a mudar o dinheiro das suas contas bancárias para investimentos de risco e de repente começarem a perder 15, 20, ou 25 por cento, que vai Maria Luís Albuquerque dizer-lhes? Ficará refugiada no silêncio dos corredores de Bruxelas?

Da minha parte (José Gomes Ferreira) as principais perguntas estão feitas.

Fica também a minha declaração de vontade: não toquem na minha conta bancária que não rende nada. Quero que continue como está.

E não toquem nas reservas da Segurança Social para investir nas bolsas.

Se o fizerem terão uma revolta generalizada nas ruas de Portugal.  


Fonte: SIC Notícias


Por fim, a minha opinião de autor, Sílvio Guerrinha:

Os "incentivos" fiscais do Governo, para quem investir nas bolsas, é um presente envenenado e uma forma de rastreio.

Recordem que assim, o Governo, ficará a saber quanto dinheiro você terá aplicado, seja em EFT, acções, etc. E após recolher o dinheiro com juros na conta bancária, lembre-se que o governo fica com 28% para IRS desse valor.


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