Estamos dentro de um Buraco Negro?

 


Anteriormente, os cientistas acreditavam que as galáxias espirais se formavam gradualmente ao longo de milhares de milhões de anos, mas as observações do Telescópio Espacial James Webb (JWST) mostram que galáxias como a Via Láctea — consideradas um produto da evolução cósmica posterior — existiram nas fases iniciais do universo.

De facto, o JWST detetou galáxias cuja formação ocorreu muito antes do esperado. JADES-GS-z14-0, por exemplo, data a sua existência 250 milhões de anos antes do Big Bang. De acordo com esta ideia cosmológica, o universo começou por ser um ponto extremamente pequeno, quente e denso, que depois se expandiu rapidamente.

Ora, estas surpresas reacenderam um debate antigo na cosmologia: e se o nosso universo não for aquilo que pensamos?

A chamada tensão de Hubble, uma discrepância entre duas formas diferentes de medir a expansão do universo, fez soar os alarmes. Por um lado, as observações do universo próximo sugerem que este está a expandir-se mais rapidamente do que o previsto pelos modelos baseados na radiação fóssil do Big Bang. Esta incoerência não se enquadra na estrutura clássica do modelo cosmológico padrão, levando alguns físicos teóricos a propor hipóteses provocatórias como a seguinte: o nosso universo poderá estar contido num buraco negro.

À primeira vista, parece absurdo. Há poucos anos, os buracos negros eram entidades puramente teóricas, soluções para as equações de Einstein que ninguém tinha observado directamente. Definiam-se pela sua densidade inimaginável e pela sua capacidade de captar até a luz, criando um horizonte de eventos do qual nada poderia escapar. No entanto, desde a primeira imagem de um buraco negro obtida em 2019 pelo Telescópio do Horizonte de Eventos, a comunidade científica passou de duvidar da sua existência a considerá-los protagonistas do cosmos. E agora, alguns sugerem um paradoxo ainda maior: que toda a nossa realidade, incluindo o espaço e o tempo, existe dentro do horizonte de eventos de um colossal buraco negro, gerado noutro universo.

Esta ideia, embora especulativa, enquadrar-se-ia em certos comportamentos observados pelo Telescópio James Webb, como as rotações inesperadas das galáxias primitivas, que contradizem as previsões atuais. De acordo com esta visão, o Big Bang não seria um "início absoluto", mas sim o colapso gravitacional de uma estrela ou região extremamente densa num outro universo, cuja explosão deu origem ao nosso. Neste modelo, o horizonte de eventos do buraco negro seria, de certa forma, o limite do nosso universo observável.


Se esta teoria estiver correta, cada buraco negro do nosso universo poderá ser a semente de um novo universo, uma bolha cósmica com as suas próprias leis físicas, desligada do mundo exterior. Esta noção liga-se diretamente com a ideia de multiversos, um conceito que até há pouco tempo parecia exclusivo da ficção científica, mas que agora está a ser levado cada vez mais a sério em certos círculos académicos. Neste cenário, o nosso universo não seria único, mas sim um de uma rede infinita de universos gerados por buracos negros noutros cosmos, como bonecas russas cósmicas aninhadas umas dentro das outras.

Além disso, estas hipóteses tocam num ponto-chave que ainda escapa à física moderna: a reconciliação entre a mecânica quântica e a relatividade geral. Enquanto Einstein descreveu a gravidade como uma curvatura do espaço-tempo, a física quântica opera com um universo de partículas e incertezas. O interior de um buraco negro — e, por extensão, a origem do nosso universo — é um dos poucos lugares onde as duas teorias inevitavelmente colidem. Se conseguirmos compreender esta fronteira, poderemos estar mais próximos do que nunca de uma teoria de tudo, uma linguagem unificada que descreva tanto o infinitamente grande como o infinitamente pequeno.

Assim, o que começou por ser uma anomalia nas observações do Telescópio James Webb abriu uma imensa porta filosófica e científica. Talvez, afinal, não estejamos a olhar para o universo de fora, mas sim de dentro, presos dentro de um buraco negro, a explorar os restos ainda quentes de um Big Bang que, na verdade, foi um Big Colapso noutro lugar. A grande ironia é que quanto mais olhamos para o espaço, mais perto estamos de compreender o mistério das nossas próprias origens.

Estas descobertas foram publicadas na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society e podem levar a mudanças inovadoras na forma como compreendemos as origens e a estrutura do cosmos.

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